Para ler ao som de In My Blood — Shawn Mendes 

É possível conversar com quantas pessoas sobre desistir sem ser julgado fraco? Há quem compreenda que implica exercer uma força extraordinária ao deixar algo para trás? Estou tentando me convencer de que para continuar a escalada muitas vezes se tem que abandonar os pesos. Mas é que me render nunca esteve nos planos. 

Mesmo quando há tantos motivos induzindo parar e estou sem forças até para caminhar, não cedo. Suplico aos céus ajuda e sigo. Porém sigo e mais longe tenho ficado de mim. Eu que já me vi em reflexos incontáveis vezes, tenho certeza que esses olhos sem vivacidade não são meus. Esse sorriso simulado não me pertence. Por mais que eu lave o rosto, a água é ineficaz em retirar essas marcas de expressão. Tão sútil quando elas é a guerra que me habita; metade pede socorro, pois já não aguenta conviver com tantas ansiedades, enquanto a outra grita de forma imperativa a continuar. E a propósito, a última voz sempre vence. Porque me é inerente persistir.

Mas fingir ser forte já não me cai tão bem. Sabe, colete à prova de balas embora proteja não é imbatível. Se não vencido pelos disparos ao menos os solavancos hão de abalar. E esse duelo pertinaz, entre desistir ou continuar, tem me afetado. Alimentado minha ânsia pela noite, o sono se tornou meu refúgio. Pena que os remédios só me fazem dormir, não curam nem preenchem o vácuo que faz-me sentir insuficiente. Aquela sensação de não ser o bastante mesmo doando tudo de si. E agora não desejo sequer levantar do sofá. Mas repito, sucumbir a ideia de desistir não faz parte de mim. 

Todos os meus sins me tornaram quem sou. Minhas escolhas me trouxeram até aqui. Por mais vitorioso que isso soe, hoje não há nada heróico. Eu sei que me vês passar com um sorriso escancarado e julga que estou bem, mas belas fachadas escondem problemas estruturais não é? Queria mesmo dizer que estou perdidamente contente com minhas decisões, só que estou cansada demais pra afirmar isso. E o pior, todas elas já me fizeram feliz. Por isso sigo tentando ressuscitar os bons sentimentos. Mas penso comigo se dessa vez desistir não seria a minha maneira de prosseguir.

Durante muito tempo popularizamos que amigo de verdade é aquele que te apoia nas piores situações. Mas é só isso mesmo? E se te disser que não é bem assim? Real é quem embora não esteja vinte e quatro horas presente tu sabes que estará ao alcance em todas as estações, principalmente para contemplar as vitórias e teus dias de sol.

Vou me explicar, é um tanto intrínseco se solidarizar, é fácil compadecer com o sofrer dos outros — digo isso se você for no mínimo um ser humano —. Mas bicho, já parou para pensar que amigo mesmo é quem consegue suportar ver você se dar bem, ainda que ele mesmo esteja na pior! Porque, infelizmente, a inveja também está enraizada em nós e lutar contra sua própria natureza para sorrir junto isso sim é prova de amizade. 

Repare na plateia, o verdadeiro será o primeiro a se levantar para aplaudir ao ver-te brilhar. Aquele que atura os contos de sua felicidade sem querer narrar as próprias vitórias. Ao invés de ficar de braços estendidos te esperando cair, ele lhe oferece a mão para te ajudar a subir.

Sabe como é péssimo ter planos e não espalhar por ver que há mais espectadores conspirando contra do que a favor? Então, não queira fechar o circuito da felicidade de ninguém. Se teu brilho depender de apagar a luz de alguém desculpa, mas você é tão mesquinho quanto um interruptor. 

Há pouca coisa mais bela que acompanhar a estrada duma pessoa e ver seus sonhos se realizar; essa é a nobre constatação. Querido, o sorriso faz muito mais barulho que as lágrimas e somente os que te querem bem suportará o ruído alto da tua gargalhada.